terça-feira, 13 de janeiro de 2009

MAYSA, UMA PONTE PARA O DESALINHO
O livro que virou disco (de Lyra Neto)
/
A artista que eu descobri. Também estive pesquisando depois da minisérie “Maysa – Quando Fala o Coração” (Rede Globo 2009). Um garotinho de cinco anos chegou perto de mim e disse “Você ta vendo a pôrra da Maysa?” Pensei: pôxa, mas ela incomoda até quem nem a conhece! Maysa Figueira Monjardim Matarazzo. Recém-nascida de 6 de junho de 1936. Viveu a vida como a letra de suas canções. Da fossa a bossa. Da bossa a fossa. Seu espírito indomável ditava os rumos de seus acontecimentos e seus acontecimentos eram a inspiração para as letras de suas canções. Uma espécie de simbiose masoquista. Maysa me pareceu uma parábola glauberochiana: um cigarro na mão e uma idéia na cabeça. Cantora, compositora e se arriscando como atriz, pintora e até escultora, sempre colocou em prática o que lhe viesse a telha. Jovem rebelde, filha, esposa, mãe, boêmia e apaixonada, colocou em seu coração quantos homens suas mãos puderam agarrar. Aliás, o coração de Maysa bombeava emoção por todo seu corpo (qual homem não sentiria vontade de consolar uma mulher assim?). Como boa geminiana, era dual: criativa e pulsativa, inconstante e indecisa, transformista e especial. Digna. Mulher de personalidade, disse NÃO para sua época. Como estrela, mostrou várias fases e inúmeras facetas: a Maysa dos grandes olhos verdes, a Maysa da voz grave e afinada, a Maysa dos escândalos, a Maysa das saias justas, a Maysa das pegadinhas, a Maysa alcoólatra, a Maysa das viagens, a Maysa rica, a Maysa chique, a Maysa das tentativas de suicídio, a Maysa mãe ausente. Creio que Maysa foi, acima de tudo, uma pessoa inteligente e emotiva demais, por isso mesmo, se sentia incompreendida. Morreu em 1977, mas ainda se pode conhecê-la. É só ouvir as velhas canções precursoras da revolução da MPB: “Meu Mundo Caiu”, “Ouça”, “O Barquinho”, “Ne Me Quitte Pas” e dezenas de outros sucessos em sua eterna voz (“a obra dela é irregular, ela gravou muita coisa boba” disse o crítico e biógrafo Eduardo Logullo. Coisa boba pra nós, hoje, que nos auto-afirmamos modernos, mas que na voz de Maysa vira pura brisa e melancolia). O talento dessa artista não tem passamento. Entre amar e ser livre, optou pela liberdade. Digo que o filho pode perdoar a mãe, afinal, ela só quis viver e aproveitar a vida. Pagou a liberdade com a felicidade e virou, ao cair da noite, uma triste ponte que liga um mundo normal a uma ilha sem barreiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário