segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

EDUCAÇÃO


COLÉGIOS DA POLÍCIA MILITAR VIRAM NOVA TENDÊNCIA E ESTRATÉGIA PARA REDUZIR OS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE EM GOIÁS

Reportagem: Sérgio Torres (mídia man)

     A denominação é: Colégio da Polícia Militar de Goiás-CPMG e é a nova mania da população. Os colégios militares, tradicionais pelo seu rigor, eram poucos no passado recente, mas agora, com o aumento da criminalidade, tendem a esparramar. Essas instituições de ensino híbridas (misto de disciplina militar com grade escolar tradicional) são autointituladas “Escolas de Civismo e Cidadania” e se consideram modelo em termos de gestão. Em Goiás, até então, funcionavam apenas seis unidades em quatro cidades. Eram três em Goiânia (CPMG Hugo de Carvalho Ramos no setor Jardim Goiás, CPMG Polivante Modelo Vasco dos Reis no setor Oeste e CPMG Ayrton Senna no setor Jardim Curitiba I), uma em Anápolis na região metropolitana (CPMG Dr. Cezar Toledo desde 2005 no bairro Alexandrina), uma em Rio Verde no sudoeste goiano (CPMG Carlos Cunha Filho desde 2001 no setor Industrial II) e uma em Itumbiara no sul do estado (CPMG Dionária Rocha no conjunto habitacional Paranaíba). Recentemente aumentou muito a busca por esse modelo educacional e, com isso, para o ano letivo de 2014, dez novas escolas estaduais foram transformadas em CPMGs. São três no entorno do Distrito Federal, sendo uma em Valparaíso (CPMG Fernando Pessoa), uma em Novo Gama (CPMG José de Alencar) e uma em Formosa (CPMG Clementina Rangel de Moura); mais duas na região metropolitana, sendo uma em Aparecida de Goiânia (CPMG Jaci Abércio Viana) e mais uma Anápolis; uma no centro goiano, precisamente, em Goianésia (CPMG José Carrilho); uma na região leste, precisamente, na Cidade de Goiás (CPMG Professor João Augusto Perillo); uma na região norte, precisamente, em Porangatu (CPMG Tomaz Martins da Cunha) e duas na região sudoeste, sendo uma em Quirinópolis (CPMG Pedro Ludovico) e uma em Jataí. São em torno de 5 mil novas vagas oferecidas à jovens estudantes nestas instituições. Pela Lei Estadual 18.324, de 30 de dezembro de 2013 (Diário Oficial em 10/01/2014), assinada pelo governador Marconi Perillo, outras unidades já foram requeridas e já estão em fase de implantação para os próximos anos letivos em várias outras cidades. Em Jataí o colégio se chamará CPMG Nestório de Paula Ribeiro e terá uma das maiores quantidades de alunos, algo como 1.200 matriculados em dois turnos (matutino e vespertino) e seguirá a tradição dos colégios militares com ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e médio. Tem o status de ser o 7º a ser implantado (logo após os seis que já existiam) e sua estrutura é mais ampla entre as escolas da cidade dotado de dezenas salas de aula, pavilhões, rampas, ginásio de esportes, quadra, várias salas e departamentos e um pátio capaz de receber a instalação de um centro esportivo. O prédio foi erigido ainda na década de 1950. Com as novas unidades, a Polícia Militar goiana passa a administrar 19 colégios em todo o estado. A medida, segundo a coordenação do Comando de Ensino da PM, dentre outras coisas, visa diminuir a violência escolar. A adaptação dos alunos está sendo rápida. Em poucos dias o visual das escolas, com aspectos deteriorados, vão sendo transformados e os estudantes respiram novas expectativas. Os colégios da Polícia Militar são regidos pelo Regimento Interno do CPMG.


ENTREVISTA COM A COMANDANTE E DIRETORA DO
CPMG NESTÓRIO RIBEIRO: CAPITÃ SELMA RODRIGUES SILVA

    ALVO NOTÍCIAS – Como se deu o procedimento que culminou na transformação do Colégio Estadual Nestório Ribeiro em novo Colégio da Polícia Militar de Goiás-CPMG Nestório Ribeiro?
     CAPITÃ SELMA – O projeto de colégio militar é um projeto político do governador do Estado de Goiás, Marconi Perillo. A escolha do Nestório Ribeiro foi por alguns fatores. Um deles é a grande infraestrutura com 16 mil metros quadrados; o prédio é bom e é histórico (60 anos) - as pessoas têm um carinho especial por ele. O outro fator é o auto índice de violência e tráfico de drogas. Se for fazer uma pesquisa mais aprofundada, nesse ano de 2013, tantos os homicidas quanto os que foram assassinados, passaram pelo Nestório Ribeiro. A escolha foi, justamente, para dar uma “animada” tendo em vista o lema do colégio que é “ESCOLA DE CIVISMO”. O objetivo é estar fazendo uma construção de cidadãos. 

     ALVO NOTÍCIAS – Como vai ficar a partir de agora?
   CAPITÃ SELMA – Vai haver uma mudança estrutural e pedagógica no colégio. Vamos estar retornando todo aquele dinamismo referente ao civismo, culto à pátria e nacionalismo. Vamos fazer aquelas formações para cantar o Hino Nacional, também olhar a questão do Direito Ambiental e até as relações de trânsito. Será toda uma formação do cidadão na escola. Vamos preparar o aluno para passar, tanto em qualquer vestibular, quanto em outros concursos em nível de ensino médio. Como deveremos ter alunos com várias dificuldades, estaremos preparando aulas de reforço: o professor vai identificar o aluno com dificuldades antes mesmo da prova e vai encaminhá-lo para a coordenação pedagógica para receber apoio em forma de reforço escolar no horário do contraturno (período fora do horário normal das aulas). A coordenação pedagógica vai estar solicitando que os pais venham à escola e explicará o motivo desse reforço escolar. Os mesmos terão de assumir o compromisso - assinando um termo - de trazer o filho para essas aulas de contraturno. Isso é importante. O que percebemos é que muitos pais acham que o colégio vai ser o “remédio” para o filho dele. Ele só quer jogar o filho na escola achando que temos toda a responsabilidade. Só que é equívoco. A escola não faz o papel do pai. Temos, na verdade, é que andar juntos: escola, pai e o aluno, este, também, precisa ter boa vontade. Assim, não vamos exigir aquilo que não oferecemos. Se a escola dá uma boa educação e aulas de reforço não há porque o aluno se sair mal em um prova, a não ser que ele tenha uma doença diagnosticada como de déficit de atenção, por exemplo. Inclusive, pretendemos dar todo esse aparato. Também vamos estar trabalhando, em 2014, com muitos professores da casa, ou seja, professores que já eram do Colégio Estadual Nestório Ribeiro; mas com uma nova roupagem: mais motivados e com ambiente de trabalho em que possam, realmente, dar aulas. Antigamente, os alunos não deixavam os professores darem aulas. Como não havia um fator disciplinador, eles aproveitavam. Inclusive tenho relato de um professor que veio à escola depois que começamos a assumir a administração e nos confidenciou que havia deixado de dar aulas no Nestório Ribeiro depois que um aluno chegou para ele e disse assim: “Olha professor, o senhor fica esperto heim! O senhor tem família!”. Dessa forma, com um certo tom de ameaça. Também conversei com vários outros professores e muitos me disserem que até queriam dar uma aula diferente, mas os alunos não deixavam. Esse quadro não fica só no Nestório. Há várias escolas públicas que, hoje, passam por isso que é essa falta de respeito ao mestre. Vamos estar combatendo isso aqui no colégio e fazendo resgate do respeito. Em relação a parte pedagógica vai haver essa transformação. Vamos cumprir com a mesma matriz curricular das escolas estaduais e acrescentar algumas que estão relacionadas à cidadania. A parte disciplinar vai ficar por conta da Polícia Militar.

     ALVO NOTÍCIAS – Como vão fazer para motivar os estudos?
     CAPITÃ SELMA - Temos várias formas de motivar o aluno a estudar. Temos o Alamar (adorno que guarnece uniformes militares de gala) que será utilizado pelo aluno que só tirar nota 9 em todas as matérias. Esse aluno é diferenciado e fazemos uma solenidade de entrega. O alamar se usa no ombro e é um cordão amarelo que identificará o estudioso, aquele que só compete consigo mesmo. Já o aluno que só tirar nota 10, além de usar o alamar, receberá uma estatueta em solenidade onde convidaremos seus pais e familiares. Por fim, aquele aluno que, além de tirar só nota 10 e não tiver nenhuma anotação com problemas, por exemplo, de cortar o cabelo ou deixar de fazer tarefa e que seja exemplar, este, estão, será o Aluno Padrão. Ele andará com um braçal semelhante ao do CPT (Companhia de Patrulhamento Tático) escrito ALUNO PADRÃO. Tudo isso são formas de estarmos motivando os mesmos a estudarem. Também vamos fazer uma mudança na biblioteca para ela ser usada de verdade. Vamos fazer campanhas junto aos alunos, tipo, aquele que ler mais livros receberá uma premiação. Claro que conferindo se realmente ele leu e, para isso, ainda vamos decidir se será através de uma sabatina ou uma resenha. Outra questão é que vamos fazer várias mudanças estruturais na escola, como laboratório de informática que hoje não existe e sala de vídeo. Todas essas benfeitorias, além de ter que contar com o governo, precisará também de contar as empresas amigas.

     ALVO NOTÍCIAS – Como vocês estão encontrando a parte administrativa da escola nesse momento de assumir a mesma?
     CAPITÃ SELMA – Com pouco efetivo. O diretor fazia o trabalho como podia e conforme os recursos que tinha. Entretanto, encontramos problemas na parte de limpeza e na infraestrutura. No começo houve um grande mito com os servidores achando que estávamos fazendo uma intervenção policial na escola. Tivemos que reunir com eles e com os pais de alunos para explicar qual era a filosofia e o projeto da transformação. Depois disso, quando viu-se que não era nenhum bicho de sete cabeças, conseguimos, então, conquistar a simpatia de todos. Houve uma certa rejeição no primeiro momento.

    ALVO NOTÍCIAS – Na parte de levantamento de dados e informações sobre os alunos da escola, como vocês encontraram as fichas dos mesmos?
     CAPITÃ SELMA – Primeiramente, fizemos um questionário socioeconômico entre 68% dos alunos que renovaram matrículas. Eles responderam e verificamos que, desses 68%, cerca de  90% não tem convivência com a figura do pai; não tem endereço e nem telefone do pai; alguns nem o nome do pai na certidão de nascimento consta. Percebemos que são famílias desestruturadas. Achamos até interessante esse questionário porque, nos fim das contas, a fato de 68% ter respondido, foi uma boa aceitação.